Pelos depoimentos que me chegam às mãos, não são poucos os irmãos em
dúvida quanto ao que pode e ao que não pode fazer, ao que é ou não é pecado.
Angustiam-se por não ter certeza se estão satisfazendo a vontade de Deus. A Bíblia
não relaciona todos os pecados, mas estabelece princípios, recomenda o respeito
às leis, às autoridades constituídas, o constante aperfeiçoamento dos santos, e
faz muitas outras advertências.
A Palavra ensina, dentre outras, a prática da honestidade em todos os
seus aspectos; a sinceridade de coração, o respeito pelas fraquezas alheias, o
amor ao próximo, correção em atos e palavras, segundo os padrões bíblicos.
Enfim, que sejamos irrepreensíveis. O padrão é muito elevado, mas optamos por
aceitá-lo. A Nova Aliança nos ensina a não entrarmos em associação com as
trevas, não tomarmos a fôrma do mundo, tal como um bolo que toma a forma do
recipiente em que é feito. O sentido de Romanos 12.2 é também o de que
estejamos sempre inconformados com o sistema pecaminoso.
Um modo prático de vencermos essas dúvidas é fazermos a seguinte
pergunta: Como Jesus faria numa situação dessas? Ele agiria da mesma forma
como estou agindo ou como estou planejando? Sabemos que o cristão vive em
constante batalha interior para superar desejos carnais. O Apóstolo Paulo
revelou essa preocupação, “pois não faço o bem que quero, mas o mal que não
quero, esse faço” (Rm 7.19). É compreensível que, vez por outra, ocorram
conflitos dessa natureza no meio do povo de Deus. Mas o objetivo da minha
palavra é dar alguma luz aos que estão indecisos sobre o que é certo e o que é
errado.
Como disse no início, a Bíblia não faz um registro detalhado de todos os
pecados, até porque novas formas de pecar surgem a cada dia. Em Romanos 13.8,9
e 13, 1 Coríntios 6.10, Gálatas 5.19-21 e Apocalipse 21.8 temos a descrição de
alguns pecados. Assim como os olhos do homem nunca se fartam, os pecadores
continuam criando novas formas de contrariar a vontade de Deus. Sem desmerecer
o indispensável exame das Escrituras e a ajuda do Espírito Santo, que nos
convence de nossas transgressões, vejamos alguns casos em que podem ocorrer
dúvidas.
É pecado tentar subornar um guarda de trânsito para que não emita uma
multa, ainda que estejamos com razão? Jesus agiria dessa forma ou se
conformaria com a decisão do guarda, para depois apresentar recurso a quem de
direito?
É pecado emitir notas fiscais frias ou de valor inferior ao preço
ajustado, para sonegar impostos, com a desculpa de que ninguém mais suporta a
carga tributária? Jesus daria razão aos sonegadores?
É contra a vontade de Deus que ignoremos os sinais de trânsito, por
exemplo, avançar o sinal vermelho, desenvolver velocidade superior à permitida
e não usar o cinto de segurança? Jesus agiria de que forma?
É contra a vontade de Deus a nossa participação em desfile carnavalesco
com a intenção de evangelizar? Jesus se acomodaria bem numa situação assim,
vestido de pierrô, com seus apóstolos em trajes condizentes com a festa, com o
objetivo de cantar hinos de louvor ao Pai, ou anunciar as Boas Novas?
É contra a vontade de Deus provocar o aborto no caso de gravidez por
estupro? Como Jesus aconselharia uma mulher nessas condições? Mandaria que ela
tivesse a criança e glorificasse o Pai, ou que ela matasse o embrião?
É contra a vontade de Deus que seus filhos pratiquem a compra e venda de
bebidas alcoólicas para aumentar a renda familiar? Jesus autorizaria os
apóstolos a praticarem o comércio de cachaça, uísque e cerveja? Ele mesmo faria
isso? Ou Jesus simplesmente abominaria esse tipo de atividade que facilita a
iniciação de jovens ao alcoolismo?
É pecado arriscar a sorte na loteca, sena, jogo-do-bicho ou em qualquer
jogo de azar? Jesus mandaria Pedro fazer uma fezinha na sena acumulada, na
federal ou na esportiva?
Não faz bem aos crentes jogar um carteado para passar o tempo, por lazer,
sem apostas em dinheiro? Jesus andaria sempre com um baralho novo no bolso,
ansioso para chegar a hora de dar uma relaxada com Tiago, João e Pedro, num
carteado leve, porque afinal ninguém é de ferro?
É pecado omitir ou falsificar informações na declaração anual do Imposto
de Renda? Jesus aconselharia seus apóstolos a fazer declarações que não
espelhassem a verdade, com vistas a pagar menos imposto?
Os santos do Senhor podem apresentar falsos atestados médicos aos seus
respectivos patrões para justificar ausências? Jesus, embora estivesse com
saúde perfeita, usaria desse expediente, ou aprovaria ato semelhante de seus
discípulos?
Podem os crentes contrair matrimônio com pessoas que não sejam da mesma
fé? Jesus não se importaria se alguns de seus discípulos se casassem com filhas
de fariseus ou de escribas, aos quais chamou de sepulcros caiados? Ou Jesus
aconselharia a não associação com as trevas?
Por não haver específica recomendação bíblica, o crente pode participar
da Festa das Bruxas, evento que acontece a cada ano? Jesus e seus apóstolos se
vestiriam de preto e vermelho e cairiam na gandaia?
Poderíamos continuar citando outros exemplos. Sabemos que há casos
polêmicos; que não temos a perfeição de Jesus; que somos santos pecadores; que
estamos sujeitos a pecar por pensamentos, palavras e obras. Mas não podemos
desprezar as advertências de Deus para vivermos segundo a Sua vontade. Refletir
sobre o que Jesus faria em idêntica situação é tão somente um facilitador para
tomarmos uma decisão, num momento de dúvida. Cabe-nos, pois, refletir sobre as
recomendações a seguir:
“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação
do vosso entendimento” (Rm 12.2).
“Toda pessoa esteja sujeita às autoridades superiores, pois não há
autoridade que não venha de Deus. As autoridades que há foram ordenadas por
Deus; quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus” (Rm 13.1-2).
“Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade
tem a justiça com a injustiça: E que comunhão tem a luz com as trevas?” (2 Co
6.14).
“Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do
Senhor. E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do
Espírito” (Ef 5.17-18).
“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes
contra as astutas ciladas do diabo” (Ef 6.11).
“Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos
abstenhais da prostituição” (1 Ts 4.3). “Sem a santificação ninguém verá o
Senhor” (Hb 12.14).
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e
alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23).
“Tendo, porém, sustento e com que nos vestir, estamos contentes, mas os
que querem ficar ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências
loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e perdição” (1 Tm
6.8-9).
“Qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg
4.4b; cf Mt 6.24).
“Mas como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a
vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou
santo” (1 Pe 1.15-16).
“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor
do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne,
a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1
Jo 2.15-16).
“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde
de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é
suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11.29-30).
Autor: Pr. Airton Evangelista da Costa
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