Férias é, sem dúvidas, um período para
relaxar, aproveitar cada hora com a família e amigos, desfrutar de situações
que na correria do trabalho não podemos, olhar para uma paisagem e ver que
existe algo além do horizonte do trabalho mas dá também para tirar algumas
lições de alguns fatos que ocorrem neste período e que poderiam até passar
despercebidas. Durante as minhas tão esperadas e desejadas férias decidi fazer
um passeio diferente: uma pescaria de barco na costa do Rio de Janeiro
mais precisamente em Barra de Guaratiba.
Tudo acertado entre o barqueiro e a
nossa equipe de pescadores experientes sendo eu a única exceção neste caso: era
a minha primeira pescaria embarcada! Durante o dia fui para a casa de um amigo para preparar a tralha que levaríamos
para a pescaria e aí é que começam as lições que podemos tirar e levar para a
nossa empresa. Passei a observar como cada um dos
pescadores se organizava para a pescaria.
Tudo, ou quase tudo, deve ser
preparado com a devida antecedência: iscas, água para beber, alimentação leve,
remédio para evitar enjôos, linhas, molinetes, anzóis, facas, tábuas para corte
de peixes, roupas e agasalhos devem ser usados (nada de roupa nova ou
semi-nova) e em pouca quantidade, mais água e uma dose elevada de esperança de
que aquele é o dia em que o peixe vai literalmente pular para dentro do barco.
Faz parte também desta preparação saber antecipadamente o local da pescaria e o
tipo de peixe pois para cada peixe uma de isca diferente. Nesta nossa pescaria
o objetivo era um peixe chamado maria-mole e também o peixe-espada, mas
pescador experiente carrega iscas para outros peixes também. Ah... e não podia
faltar o isopor para o transporte dos pescados.
Como os participantes vinham de
diversos lugares e cada um tem seu jeito ou comportamento fui logo alertado
sobre algumas características de alguns deles como, por exemplo, aquele que não
gosta de emprestar suas ferramentas, outro que já é mais participativo, o que
fazer quando as linhas embolam e outras informações importantes e que
facilitariam a minha integração com aquela equipe que já estava formada de
longa data. Neste momento fiquei atento às explicações do meu amigo tal qual um
garoto que acabara de entrar para o grupo de escoteiros. Olhar fixo e muita
atenção às orientações. Antes de partirmos fizemos uma ligação para o barqueiro
para confirmar se o mar estava permitindo entrarmos ou não e para sabermos como
foi a pescaria nos dias anteriores. Tudo OK, o mar está para peixe!
A preparação não para aí, pescador é
amigo de pescador e sempre que possível procura saber se o outro já conseguiu
transporte até o local, se está com a isca adequada, se sabe de alguma novidade
sobre outras pescarias nos dias anteriores, etc. Na chegada à praia que seria o
nosso ponto de encontro fiquei ouvindo os comentários que surgiam e notei que
nem todos fizeram a lição de casa corretamente, muitos haviam esquecido parte
de sua tralha ou não trouxeram em quantidades suficientes para uma boa
pescaria.
Saída do barco no horário e em direção
às marias-moles e na volta rumo à costa para buscarmos as “espadas”. No caminho
fui alertado sobre os cuidados necessários para se retirar o peixe-espada do
anzol devido a sua mordida ser muito perigosa. Pescaria iniciada, peixe
chegando e a noite começando a cair... até aí tudo bem mas com o passar das
horas é que pude notar a diferença entre os que estavam bem preparados e os
demais: como tinha muito peixe chegando a pescaria se tornou um problema para
os desorganizados que, apesar de experientes, não conseguiram um desempenho tão
bom quanto os demais e é nessa hora que a brincadeira rola solta deixando o
atrapalhado ainda mais nervoso. Foram muitas gargalhadas e gozações neste dia e
ao que tudo indicava eram sempre os mesmos pescadores de tantas outras
pescarias que insistiam em não se organizar.
Durante um descanso ouvi uma história
muito curiosa sobre um bairro chamado Ilha de Guaratiba que na realidade não é
uma ilha. Tudo se deu por causa de um antigo morador desta região, um inglês
chamado William. Como o pessoal do bairro não conseguia pronunciar seu nome,
então ele ficou conhecido como "Seu" Ilha, daí o nome do bairro Ilha
de Guaratiba (um bairro e não uma ilha). Fizemos uma segunda parada mais
próxima do costado e as “espadas” já começaram a pular para dentro do barco.
Alegria de uns, tristeza de outros.
Tudo bem era só uma pescaria, mas dá
para refletir e pensar: será que dá para uma empresa sobreviver sem uma
preparação adequada? Sem uma reunião antecedendo um evento ou projeto? Será que
mesmo sabendo o que vai acontecer (pescaria) os seus pescadores ainda assim não
se preparam? Certamente que uma empresa não sobreviveria por muito tempo
operando desta forma pois nem sempre a maré está para peixe como foi a nossa
pescaria.
Ah... o nosso isopor voltou lotado de
peixes! Será?
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